domingo, 6 de setembro de 2009

Tempo

  Acordei suando frio novamente com um grito preso na garganta, as imagens do acidente voltavam a me assombrar. Procurei pelo relógio na cabeceira para ver a hora, 03:27 da manhã, ligo a TV apesar de saber que será a última coisa a reter a minha atenção.

Só eu usava o cinto de segurança naquela noite, ação involuntária, diga- se de passagem, você nunca o usava, não importava o quanto eu brigasse com você por isso, você sempre me ignorava, sorria pra mim dizendo o quanto eu ficava atraente nervosa.
Engraçado como alguns hábitos adquiridos com nosso relacionamento permaneceram mesmo depois de tanto tempo, quase um ano após sua morte ainda me pego falando "boa noite, Ian" e quando não ouço sua voz em resposta, choro horas seguidas até adormecer.
É incrível como nosso apartamento de quatro cômodos que antes eu achava minúsculo agora parece gigante sem você, eu ando pela casa e cada canto guarda uma lembrança nossa, a sala ainda tem o cheiro do perfume enjoativo que você usava quando queria me irritar, a sua camisa ainda ta na cadeira onde você sentava pra estudar enquanto eu ficava observando sua silueta sobre a mesa e as covinhas que formavam em suas bochechas enquanto você tentava entender teoria quântica, costatemente me pego falando sozinha, como agora tentando preencher o silêncio que me cerca.
Nossos amigos sempre estão aqui em casa tentando fazer as coisas serem como antes, sei que você gostaria de saber disso, mais nada consegue me tirar desse vazio, por incrível que possa parecer pra você, sinto falta até de nossas brigas, de quando você batia a porta, saía e voltava no outro dia com uma caixa de bombom e um lírio branco dizendo que dormiu na casa da sua mãe, eu nunca duvidei de que você dizia a verdade, o meu bico e cara de emburrada era só charme, mais... Eu acho que você sabia disso.
Permaneço com a TV ligada no último volume, mas só consigo escutar o barulho enjoado do relógio que insisti em me dizer que falta muito pro nascer do sol. Falta muito tempo para que sua lembrança me deixe viver novamente.

CURTIRAM?

Nenhum comentário:

Postar um comentário